O poder do amor
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Desolada, perdida, suja, consternada, obscura, infeliz
Não haviam adjetivos suficientes no mundo para definir
aquele sentimento
Doce menina, amarga mulher; era assim vista por todos a sua
volta, como uma mulher desalmada, insensível, fria...
Mas ela não era assim, talvez ela fosse mais apiedada que a
maioria das pessoas que a julgava
Ela ouvia palavra por palavra que era jorrada sem dó nem
piedade de bocas alheias que a mal diziam. Prometia a si mesma que não
derramaria uma lagrima sequer, aprendera desde cedo a engolir o choro e era
isso que faria. Afinal, ela pagava suas contas, ela experimentava o ato de
viver tal vida, ela não precisava de ninguém, só dela mesma – pelo menos era
isso que a mulher tentava acreditar- Não daria aos outros o prazer de ver seu
riso ser apagado.
Ela era obrigada a colocar máscaras em seu rosto
Máscaras de prazer
Máscaras de felicidade
Máscaras de compaixão
Máscaras de surpresa
Máscaras de euforia
Mas jamais tinha aparecido um resquício
de tristeza em seu pálido rosto, não para os outros.
Ela havia se tornado uma mulher
totalmente diferente da menina que todos conheciam. Aquela doce menina que
nunca deixava seu sorriso se apagar tinha sido deixado para trás, junto com
toda a delicadeza e felicidade que eram visíveis em seus olhos. Seu sorriso,
daqueles que dá em qualquer um a vontade de sorrir junto dava lugar ao presenta
semblante irritado que tinha sido implantado ali
A menina tinha cortado e tingido
seu cabelo
Jogou suas roupas pela janela
Quebrou seu perfume
Rasgou fotos
Proibiu qualquer um de chama-la
pelo nome de nascença, Giovana. Ela agora tinha raiva desse nome, ele marcava
tudo de ruim que já tinha acontecido. A memória falha não a deixava lembrar de
tudo, mas ela ainda se encolhia ao lembrar daquele tom de voz sujo que havia
sido proferido o seu antigo nome: GIOVANA
Agora é outro nome: Clara! Origem
latina, significa brilhante, luminosa e ilustre. Não para ela! Para ela, era o início
de um a nova era, uma nova mulher, totalmente restaurada e modificada.
Giovana era apenas uma velha
conhecida que apenas viva em suas memórias, e sua imagem só era encontrada em
fotografias
Lastimável
Para a mulher agora já madura e
vivida, tudo tinha sido um ensinamento. Aprendeu que era forte o suficiente
para lutar contra seus sentimentos e ainda por cima colocar um sorriso no rosto
dizendo que estava tudo bem, quando na verdade não estava.
Ela vivia em uma imensa escuridão,
tudo nela era preto. A madrugada, que era sua melhor amiga, a sufocava. O
silêncio era o barulho mais ensurdecedor que ela já tinha escutado, ele o
trazia lágrimas salgadas, sim, salgadas pois era esse o gosto das lágrimas
entristecidas. Bem diferente das lágrimas doces que são repletas de uma
felicidade eminente. Ela não chorava lágrimas brandas e melosas
Não chorava até ouvir palavras tão
adocicadas quanto a mais deliciosa das guloseimas fluírem dos lábios do atual
dono de seus devaneios.
Amedrontada, paralisada. Era assim
que ela podia se sentir por segundos
Por outro lado: Confiante,
esperançosa
O sentimento a tomava como algo
que não pudesse gritar por socorro
A doce pegada de sua mão a fazia
se sentir segura. Uma completa nova mulher
Amada
A sensação de poder tomar o mundo
com mãos entrelaçadas
Alguém entra em seu mundo, e de
repente seu mundo se torna outro. Parece que esse alguém já esteve desde sempre
Não existia abraços que poderia a
levantar tão alto.
Não existia amor que a levasse
através do tempo
O tempo parava quando estava ao
lado do dono do coração amargurada que agora estava em mãos tão delicadas e
cuidadosas
Quando percebeu que havia caído no
amor era tarde demais!
Quando percebeu que sua barriga
entra em guerra com borboletas
Quando suas pupilas se delatavam
com apenas olhares diretos
Quando sua respiração ficava
ofegante ao lado dele.
Quando abraçar a deixava nervosa,
afinal, é uma grande responsabilidade segurar tudo para ela em seus braços
Quando seus pensamentos,
sentimentos e atitudes viravam nos tais ‘’clichês’’
Já era tarde demais, já era amor.
E fica em sua memória o primeiro
dia juntos, aquele em que promessas foram feitas, o dia em que apenas abraços e
carinhos significava mais que qualquer ato de prazer.
Ela não iria se importar caso fosse
preciso fazer cócegas quando ele se sentir para baixo, ou até mesmo ficar
piscando inúmeras vezes até arrancar um sorriso bobo puxado do canto de sua
boca. Não iria se importar em fazer caretas para posar para fotos.
Até momentos mais detalhados foram
firmados, como o momento que passava no céu uma nuvem com formato engraçado e a
piada que saiu do seu par, junto uma gargalhada foi solta juntamente com uma
louca vontade de explicar o quanto ela o amava
Ela havia descoberto o que um amor
verdadeiro podia fazer
Ela sabia dos riscos da queda, mas
a segurança a fazia voar e não olhar para baixo
Suas mochilas pesadas de rancor e
dor havia sido tirada pelas mãos do amor
Ela já não era mais uma menina
fraca, uma menina que cairia atoa. Ela recuperou quem ela realmente é. Agora sabe o que é a felicidade. Algo que vai além daquela pedra fria que nos deixa
anestesiados
Ela aprendeu o que é amar e foi
salva.
Texto adaptado. Produzido para o teatro em 2014 para atuação e participação de Amanda Pedrosa.
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